Nosso barman, o Guarabira, já conhece a história: o martini que o James Bond pede não é autêntico – o que ele pede é vodka martini, uma bebida que não se assemelha à original nem na aparência, nem nos aromas, nem na elegância, nem no caráter. O criador do personagem, Ian Fleming, fica devendo um pedido de desculpas a todos nós, súditos que somos da Rainha Elisabeth.
Há um atenuante no caso do nosso 007 para esse deslize. As variações em torno do martini comandam as tendências nos bares da atualidade, embora o que se mantenha do original seja somente a taça. A vodca e os sucos de frutas substituíram o gim e as azeitonas. O humor inglês prevê a presença de um vermute como o Noilly Prat, desde que sua presença não seja inferior a um metro do copo.
Já a criatividade dos bartenders modernos prevê a criação de outras bebidas com apenas uma breve referência ao clássico. É o caso appletini, mais famosa das acrobacias contemporâneas, em que até a limpidez do original se perde: é turva e verdinha.
Para a experiência, o roteirista da série James Bond pode evitar a presença de bandidos e mocinhas: o guia Michelin destaca o venerável e circunspecto bar do hotel Duke’s, na St. James Street como o cenário para o mais perfeito de todos os martinis: azeitonas da Puglia, zest de laranja da costa amalfitana e o raríssimo Nr. 3 London Dry Gin.
A escolha do gim pode ser polêmica: na receita do escritor Ernest Hemingway, era preparado com Gordon. Ele tomava no Chicote, bar do Gran Via, em Madri. Sobre a “personalidade da bebida, a tirada de outro escriba: W.C. Fields, e sua irônica referência ao seu estado etílico habitual: “De manhã, nunca tomo nada mais forte do que o gim”. `Por fim, quem assistiu A Feiticeira, seriado dos anos 70, sempre via o marido no bar tomando porre de gim tônica. Chegava com a boca cheia de azeitona.